Após o alerta para que os profissionais de Saúde tivessem cuidado ao receitar a sibutramina a seus pacientes, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu tornar ainda mais rigorosa a regra para a venda e a prescrição do medicamento, que é utilizado no tratamento para perda de peso. A partir de agora, os brasileiros que quiserem o remédio precisam ter em mãos a receita azul, utilizada para controle especial. Antes, bastava apresentar a receita branca, de controle simples. Além disso, a tarja do medicamento deixa de ser vermelha e passa a ser preta. A discussão sobre a substância vem desde janeiro, quando a Agência Europeia de Medicamentos proibiu a venda, “pois os riscos que esse medicamento provoca são bem maiores do que seus benefícios, aumentando assim as chances do paciente de sofrer derrame e enfarte”, segundo o comunicado emitido à época. A partir daí, a Anvisa passou a dar mais atenção ao assunto, até porque o Brasil está na lista dos países que mais consomem a droga. Só em 2009, de acordo com balanço divulgado pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, os brasileiros consumiram 1,9 tonelada de sibutramina.
A médica Elisiane Brandão: "Observamos que tinha uma prescrição desenfreada por médicos não habilitados" |
A nova decisão da agência dividiu médicos e pacientes. Para o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Ricardo Meirelles, não faz sentido incluir a sibutramina entre os remédios que causam dependência, pois não existe essa evidência. Além disso, como destacou, o fato de estar incluído na lista de controle especial, só vai permitir que o médico prescreva o remédio para um mês, obrigando o paciente a voltar com mais frequência ao consultório. “Temos medo de que acabe interrompendo o tratamento e o paciente volte a engordar. Além disso, já temos muito pouco tratamento para emagrecimento, e se decidirem dificultar cada vez mais, vai piorar.”
Meirelles destacou ainda que, ao ver o produto com tarja preta, as pessoas vão ficar com medo do medicamento. “Não é isso que temos que fazer. Em vez de dificultar o uso da medicação, que não é perigosa, é preciso controlar a prescrição. O endocrinologista sabe bem para quem pode indicar, mas tem outros médicos que não dão muita atenção para esse ponto”, completou. Segundo a Anvisa, entre os dez maiores prescritores de sibutramina no país, há um médico especialista em medicina de tráfego, ou seja, que trata da mobilidade humana.
Esse ponto, de acordo com a endocrinologista Elisiane Brandão, é exatamente o que a medida tenta consertar. “Observamos que tinha uma prescrição desenfreada por médicos não habilitados para tratar a obesidade e a sibutramina estava sendo banalizada. Esse tratamento é sério e tem que ser acompanhado por uma boa equipe. Todo remédio pode ter efeito colateral. E, por isso, acompanhamos o paciente rotineiramente”, explicou. Ela ressaltou ainda que o controle de receituários vai deixar a sociedade mais confortável por saber que não está usando o medicamento indevidamente.
Contrário ao uso da sibutramina, o coordenador do Centro de Fibrilação Atrial do Hospital Pró-Cardíaco, Eduardo Saad, lembrou os danos que ela pode causar e, por isso, acredita que a medida tomada pela Anvisa é positiva. “A sibutramina leva a uma maior saciedade. Com isso, os vasos sanguíneos tendem a se contrair mais, aumentando os níveis de pressão arterial e suas consequências, gerando risco de AVC, infarto e morte. Isso já ocorreu com outros medicamentos para emagrecer. Portanto, o mínimo aceitável é que pessoas com qualquer histórico cardiovascular não usem este medicamento”, explicou.
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A paciente Karina Torres, 35 anos, também comemorou a medida. Ela afirmou que fez o tratamento durante todo o ano passado e não teve nenhum efeito colateral. Porém, sua mãe, que também utilizou a sibutramina, passou mal e teve problemas de circulação. “Ainda bem que a médica foi prudente e suspendeu a medicação. Mas acredito que outros médicos não tenham essa mesma responsabilidade.”
Em vez de dificultar o uso da medicação, que não é perigosa, é preciso controlar a prescrição”
Ricardo Meirelles, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
Grupos
Critérios para a utilização dos medicamentos, de acordo com o Conselho Latino-Americano de Obesidade:
# Em pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30kg/m²;
# Em pacientes com IMC igual ou superior a 25kg/m², acompanhado de outros fatores de risco, como a hipertensão arterial, diabetes melitus tipo 2, hiperlipidemia etc.
# Quando não alcançados os objetivos com planos alimentares e estímulo a atividades físicas
Luiza Seixas
Publicação: 31/03/2010 07:43
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